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Josias de Souza

Jaques Wagner agora nega ‘frente democrática’

Josias de Souza

16/10/2018 19h26

Um repórter perguntou a Jaques Wagner, coordenador político da candidatura de Fernando Haddad, se as críticas de Cid Gomes dificultam a composição da pretendida "frente democrática" anti-Bolsonaro. E ele: "Que frente?" Ante a insistência do repórter, Wagner se fez de desentendido: "A gente quer ampliar com a sociedade. A gente conversa com todo mundo, mas não tem ideia de frente."

Há cinco dias, na saída de uma conversa com Lula, na cadeia de Curitiba, Wagner defendia enfaticamente a formação da tal frente. Chegou mesmo a comparar a conjuntura atual ao cenário que levou à união das forças democráticas pelo fim da ditadura militar.

Disse Wagner na entrevista de porta de cadeia: "Nas Diretas Já nós juntamos todo mundo que entendia que era hora de voltar à democracia. E nós voltamos, com o Colégio Eleitoral (que elegeu Tancredo Neves). Agora, é as diretas já preventiva, no sentido de a gente não permitir que adentre por aqui um processo de autoritarismo disfarçado de democracia."

Jaques Wagner abandonou rapidamente a ideia da frente por falta de interesse das tais forças democráticas em aderir à ideia. Ciro Gomes declarou-se avesso a Bolsonaro. Mas limitou-se a empurrou o seu PDT para um "apoio crítico" a Haddad. Marina Silva afastou a Rede de Bolsonaro, mas se absteve de aderir ao petista. Fernando Henrique Cardoso ergueu um "muro" ente ele e Bolsonaro. Mas condicionou a abertura da "porta" que o separa de Haddad aos gestos que o PT será capaz de produzir.

Ao renegar a frente antidemocrática, Jaques Wagner cospe num prato em que não conseguiu comer. A rigor, nenhuma das personalidades políticas assediadas para aderir à candidatura de Haddad disse "desta água não beberei". Mas todos se comportam como se preferissem que o PT fervesse antes.

"Se eles dessem a declaração [de apoio], seria melhor. Mas se não derem a declaração e já disserem que não votam no Bolsonaro, na minha opinião já demarcaram um campo", declarou Jaques Wagner nesta terça-feira (16), hoje bem menos ambicioso do que há cinco dias.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.