País aprova Lava Jato, mas vê pus no fim do túnel
Decorridos mais de cinco anos de Lava Jato, 61% dos brasileiros aprovam a operação. Impressionante. Paradoxamente, despencou o percentual dos que acreditam que o trabalho surtirá efeito. Em dezembro de 2018, antes da posse de Jair Bolsonaro, 58% achavam que a roubalheira diminuiria. Hoje, apenas 35% cultivam a mesma crença. Decepcionante.
É uma pena que Bolsonaro despreze as pesquisas que não lhe trazem boas notícias. Se ainda lhe restasse algum bom senso, o presidente trocaria dez minutos de Twitter pela análise dos dados colecionados pelo Datafolha. Quem percorre a sondagem verifica que a tendência de aprovação à Lava Jato aumenta na proporção direta da simpatia dos entrevistados por Bolsonaro. Entre os que consideram o PSL seu partido preferido a taxa bate em impressionantes 91%.
Não é preciso ser um gênio para enxergar o risco político que Bolsonaro corre ao contemporizar com a falta de ética. Na campanha, prometera um governo limpinho. No Poder, convive com um ministério apinhado de nozes que não justificam a casca. Sem contar o caso Queiroz, com todas as suas implicações —da apropriação de nacos da folha do gabinete do primogênito Flávio Bolsonaro aos depósitos na conta da primeira-dama.
No momento, a complacência de Bolsonaro é mais gritante no caso do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). A despeito do avanço do inquérito da Polícia Federal sobre o escândalo do laranjal do PSL, o capitão demora a se dar conta de que certos ministros não são os ministros certos. No mínimo, deveria afastar o suspeito temporariamente, até que se verificasse cabalmente se não se apropriou de um dado dinheiro do fundo eleitoral como um dinheiro dado.
Ao encostar no alto índice de aprovação da Lava Jato uma taxa mixuruca de crença na redução da ladroagem, o brasileiro sinaliza que passou a enxergar a corrupção como um atributo congênito dos políticos, uma condição de vida. É algo tão natural e inevitável quanto as escamas no peixe. Daí tantas pessoas enxergarem apenas pus no fim do túnel. O convívio de Bolsonaro com o inaceitável o transforma em parte da infecção.
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