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Josias de Souza

Recado de Cachoeira: não prejudicará ninguém

Josias de Souza

05/05/2012 02h46

Dito e feito. Muito foi dito e nada será feito. A dez dias do depoimento de Carlinhos Cachoeira na CPI que leva seu nome, a companheira do pós-bicheiro, Andressa Mendonça, informa: ele "está em paz, muito bem, muito equilibrado."

Espécie de pombo-correio do marido, Andressa dizia o oposto há uma semana: "Ele pode explodir. Ele é um leão enjaulado. Ele pode explodir porque é uma pessoa que está presa, sentindo-se injustiçada. […]. Ele se sente bode expiatório."

Na primeira reunião deliberativa da CPI, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) comentou: "Tem réu preso que é valente, que anda dizendo que vai explodir. Então que venha explodir aqui na CPI."

Súbito, Andressa tornou-se portadora de um recado invertido: "Ele está muito bem orientado por três advogados: a doutora Dora Cavalcanti, o doutor Márcio Thomaz Bastos e o doutor Augusto Botelho. Eu tenho certeza de que ele não quer prejudicar ninguém."

Andressa mudou de tom numa entrevista à repórter Maria Lima. Cachoeia agora parece mais preocupado com a indumentária e os adereços que vai usar ao trocar, em 15 de maio, a cela da penitenciária brasiliense da Papuda pelo banco da CPI.

Andressa disse ter conversado "com alguns deputados" para saber como o marido terá de se apresentar: "Eles me garantiram que ele não irá algemado ou com roupa imprópria, da prisão." Se bobear, o Congresso acaba virando palco de um tipo específico de explosão. Uma explosão de esperteza.

"Acredito que ele vai aproveitar esse momento para levantar uma grande bandeira pela legalização dos jogos no país", afirmou a companheira de Cachoeira. "Ele está nessa batalha há muitos anos e agora é a hora de conscientização da importância da legalização dos jogos."

Dona de aparência que faz dela, por assim dizer, uma flor do lodo, Andressa Mendonça informou que vai acompanhar o marido na CPI. "É lógico! Estarei ao seu lado o tempo todo."

O infortúnio de Cachoeira fez de Andressa celebridade. Ela conta que até já refugou convite para posar nua na Playboy. "Fui convidada. Mas não vou dar esse gostinho, não! Deixa só para o Cachoeira. Eu contei do convite e ele gostou, morreu de rir."

Como se vê, acima de certo saldo bancário, qualquer um pode brincar com a estupefação alheia como quem brinca de roleta russa, na certeza de que manipula um sistema punitivo completamente descarregado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.