Lava Jato mostra que TSE virou uma lavanderia
No mensalão, concluiu o STF, o PT recorreu a empréstimos bancários fictícios para encobrir o dinheiro que saía de sua tesouraria pelo ladrão. No petrolão, indicam as delações da Operação Lava Jato, o partido de Lula e Dilma Rousseff descobriu uma maneira legal de ser desonesto: converteu o Tribunal Superior Eleitoral e suas ramificações estaduais numa lavanderia.
Um dos delatores, o executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, disse que um pedaço das propinas pagas ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque desceu à caixa registradora do PT na forma de "doações oficiais", devidamente registradas na Justiça Eleitoral. Coisa de R$ 4 milhões entre 2008 e 2011.
Superior hierárquico da Polícia Federal, o ministro petista José Eduardo Cardoso (Justiça) apressou-se em declarar que é "incorreto" concluir que a escrituração do comitê Dilma-2010 foi irrigada com verbas provenientes da petrorroubalheira. Em busca de companhia para o PT, o ministro citou o depoimento de Júlio Camargo, outro delator da Toyo Setal
Júlio também admitiu que pagou R$ 137 milhões em propinas. Mas negou que parte desse valor tenha virado doação legal de campanha. Não que ele seja avesso a políticos. Não, não. Absolutamente. Dono de três empresas de consultoria, o delator diz ter "doado" R$ 4,2 milhões entre 2008 e 2012 a políticos de 11 partidos. Ele apenas declara que tais "doações" não incluíram verbas de má origem.
Cardozo abre o leque: "Quando você fala em contribuições neste período, você não está falando especificamente das contas de uma campanha, você está falando de todas as campanhas de todos esses partidos."
O doutor tem razão. Os arquivos do TSE informam que, apenas em 2010, o custo total das campanhas para presidente, governador, senador e deputado federal foi de 4,9 bilhões. Sabe-se que o PT não é a única organização partidária com fins lucrativos do país.
Assim, é razoável supor que a cifra registrada no TSE carregue sujeiras alheias. Embora estrelados pelo PT, os próprios inquéritos do petrolão jogam no caldeirão outras siglas: PMDB, PP, PSB e até, numa rebarba de R$ 10 milhões, o PSDB.
Cardozo acha que "há uma leitura política dos fatos, que não condiz com aquilo que está dito" nos depoimentos. "Cada um vai ler os fatos como lhe interessa. Por que é a [campanha] presidencial e não os governadores? Onde é que está dito isso?"
De novo, o doutor tem razão. Mas o ministro deveria fazer a mesma pergunta de trás para a frente. Verá que também faz sentido: por que o dinheiro proveniente da Petrobras teria irrigado apenas as campanhas de governadores e não a da presidente da República?
Quanto à segunda indagação —"onde está dito isto?"— Cardozo faria um bem a si mesmo se desse tempo ao tempo. Convém preparar a alma. Sob pena de surpreender-se desagradavelmente quando vierem à luz os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Quem ouviu a dupla diz que, entre muitos outros temas, ambos falaram de campanha presidencial. Caberá ao procurador-geral da República Rodrigo Janot decidir o que fazer com o material. O teor da delação de Paulo Roberto já está com Janot. O resultado do suor do dedo de Youssef chega-lhe à mesa oficialmente nesta sexta-feira.
Enquanto aguarda pelos desdobramentos do caso, a plateia divide-se em duas: de um lado os otimistas. Do outro, os pessimistas. O primeiro grupo acha que, de escândalo em escândalo, o país vai expurgando a corrupção do seu sistema político. O segundo grupo avalia que, ao descobrir que o TSE lava mais branco, a corrupção tornou-se o próprio sistema.
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