Dilema do comitê de Bolsonaro: Que tom adotar?
Em política, como numa partitura musical, muitas vezes o trecho mais relevante do discurso é a pausa. Esfaqueado num ato de campanha, Jair Bolsonaro foi submetido à possibilidade de refletir. Preferiu conservar aberta a trincheira das redes sociais. E delegou a três pessoas a tarefa de manter a campanha acesa fora do ambiente hospilar: o general Hamilton Mourão, candidato a vice; e os filhos Flavio e Eduardo. O desafio da campanha do capitão é calibrar o tom do discurso.
Bolsonaro e seus operadores políticos podem continuar utilizando palavras como armas carregadas. Ou podem começar a medir as palavras. Com a língua em riste, tendem a abreviar a trégua concedida pelos adversários. Moderando o linguajar, potencializariam os efeitos sedativos que a comoção provoca nos nichos do eleitorado que cultivam uma aversão ao extremismo.
Nos dias que antecederam a facada, Bolsonaro foi pendurado nas manchetes com frases que realçaram seu estilo belicoso. Interpelou um repórter: "Você pintou unha quando criança?" Fustigou adversários: "Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre." Alvejou PSDB e PT: "Vamos varrer a cúpula desses partidos para a lata de lixo da história." Destilou veneno ideológico: "Vamos dar um pé no traseiro do comunismo".
Na véspera do ataque do esfaqueador, o Ibope revelou os efeitos da estratégia de Bolsonaro: a devoção dos convertidos rendeu-lhe 22% das intenções de voto, praticamente colocando-o no segundo turno. A aversão dos eleitores refratários à mensagem extremista elevou sua taxa de rejeição para 44%, ameaçando seu desempenho no segundo turno.
Beneficiado pela suspensão compulsória dos ataques que vinha recebendo das campanhas rivais, especialmente de Geraldo Alckmin, Bolsonaro poderia, em tese, adotar um discurso mais moderado —ou menos encrespado—, para tentar reduzir a animosidade que o coloca no topo do ranking da rejeição. O problema é que os extremistas não costumam perder a oportunidade de perder uma oportunidade.
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