Gestão Bolsonaro mal começou e já gira em falso
A primeira reunião ministerial do governo de Jair Bolsonaro estava marcada para terça-feira da próxima semana. De repente, o novo presidente antecipou o encontro para esta quinta-feira. Imaginou-se que o Planalto levaria às manchetes decisões que, de tão urgentes, não poderiam esperar. Engano. Descobriu-se que a gestão de Bolsonaro mal começou a já roda em falso, como um parafuso espanado.
Escalado para oferecer aos repórteres um resumo do que foi discutido a portas fechadas, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) empilhou pseudo-novidades recicladas da fase de transição. Nada sobre reforma da Previdência, prioridade das prioridades. Apenas perfumaria: nomeações "técnicas", "racionalização" do uso de imóveis, revisão do funcionamento de conselhos e —tchan, tchan, tchan— um pente-fino nos últimos atos praticados sob Michel Temer.
Apresentada como coisa nova, a revisão das decisões de Temer já constou até de documento oficial. Chama-se "Agenda de Governo e Governança Pública". Ganhou o noticiário antes da posse de Bolsonaro. Foi distribuído aos ministros numa outra reunião com o presidente, em 27 de dezembro. O próprio Onyx repassara a peça aos repórteres na ocasião.
O documento anota: "Nos primeiros dez dias, cada ministério deverá elencar as políticas prioritárias dentro de sua área de atuação – incluindo a revisão de atos normativos legais ou infralegais publicados nos últimos 60 dias do mandato anterior, para avaliação de aderência aos compromissos da nova gestão."
Nesta quinta-feira, Onyx declarou que "houve uma movimentação incomum de nomeações e exonerações nos últimos 30 dias, assim como também houve movimentação incomum de recursos destinados a ministérios nos últimos 30 dias." Por isso, "foi solicitado que todos os ministros fizessem a revisão, pasta por pasta, quer nomeações, exonerações e transferências, quer sobre a movimentação financeira dos últimos 30 dias, particularmente dos últimos 15 dias, que, pelo alto volume, causou estranheza."
Onyx não se deu conta. Mas acabou encurtando o alcance da revisão ao reciclar a decisão de dezembro. De acordo com o documento da transição, a lupa alcançaria os atos dos "últimos 60 dias" da administração Temer. Agora, Onyx declara que o pente-fino alcançará decisões dos "últimos 30 dias, particularmente dos últimos 15 dias."
Um detalhe reforça o caráter cenográfico da movimentação. A despeito do ânimo revisionista, Bolsonaro decidiu manter intacta a decisão de Temer de nomear para o conselho de administração da hidrelétrica de Itaipu Carlos Marun, o ex-ministro e coordenador político do seu governo. Marun receberá R$ 27 mil mensais para participar de uma reunião a cada dois meses. Nada mal para quem acaba de perder o emprego de ministro. Muito bom para alguém que ficará sem o mandato de deputado a partir de fevereiro.
E quanto à reforma da Previdência? Bem, sobre isso Onyx tinha pouco a dizer. Paulo Guedes, o ministro da Economia, deve expor os meandros da proposta para Bolsonaro até a semana que vem. Uma repórter insistiu para que o porta-voz da reunião ministerial dissesse algo sobre a reforma. E Onyx, lacônico: "Só uma palavra: vamos fazer a reforma da Previdência. Ponto. Próxima pergunta."
No gogó, a mexida na Previdência é uma prioridade de Bolsonaro desde a campanha. Quando indagado sobre os detalhes, o então candidato terceirizava s explicações: "Isso é com o Paulo Guedes, meu Posto Ipiranga." Entre a proclamação do resultado das urnas e a posse, Bolsonaro e seu staff passaram dois meses cuidando da transição de governo. E tudo o que Onyx tem a dizer sobre a mãe de todas as reformas é: "Próxima pergunta."
A boa notícia é que Bolsonaro tomou posse a menos de 72 horas. Dispõe de três anos e 362 dias para melhorar sua coreografia. Enquanto o governo ensaia, ocupam o centro do palco tolices como a que foi pronunciada pela ministra Damares Alves: Há "uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa".
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