Freud explica o ‘ato falho’ admitido por Bolsonaro
Jair Bolsonaro pediu desculpas aos imigrantes brasileiros nesta terça-feira. Na véspera, ao apoiar a ideia de Donald Trump de erguer um muro na fronteira entre Estados Unidos e México, o presidente brasileiro dissera numa entrevista à Fox News: "A grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer o melhor ou fazer bem ao povo americano". Esqueceu-se dos brasileiros que buscam na América os empregos que o Brasil não provê.
"Uma boa parte tem boas intenções, a menor parte não", recuou Bolsonaro. "Houve um equívoco da minha parte, peço desculpas. Agora tem muita gente que está de forma ilegal aqui e isso uma questão de política interna deles, não é nossa. Então, gostaria que, no Brasil, só tivesse estrangeiro legalizado, não de forma ilegal como existe muita gente no Brasil. Me desculpe mais uma vez o equívoco, o ato falho que cometi no dia de ontem."
"Ato falho", eis a expressão usada por Bolsonaro. Freud explica: o ato falho não é um equívoco qualquer. Revela o que vai no inconsciente de quem o comete. Assim, o Bolsonaro verdadeiro é o da Fox News. O presidente do pedido de desculpas é apenas um simulacro do original arrependido de ter negligenciado princípios básicos da política: uma dose de sinceridade é um perigo, a sinceridade absoluta é fatal.
Deve-se o mea-culpa de Bolsonaro não a um arrependimento genuíno, mas à percepção de que a inconfidência pode resultar na perda de votos. Imigrantes brasileiros —nos Estados Unidos e alhures— também votam. Basta comparecer ao consulado.
"É muito frustrante que os imigrantes —99% dos quais são pessoas de bem—, que estão aqui há décadas com suas famílias, com crianças, que estudam e pagam seus impostos, sejam tratados como criminosos", disse à BBC Natalícia Tracy. Brasileira, ela se mudou para os EUA em 1989. Hoje, preside o Centro do Trabalhador Brasileiro, em Boston.
"A fala de Bolsonaro terá um efeito dominó, ampliando o estigma sobre a comunidade e estimulando as pessoas a se isolarem ainda mais", lamentou Tracy. "Não bastasse Trump, agora nosso próprio presidente nos cria dificuldades, incentivando uma política que expõe milhões de pessoas à caça."
Vivo, Freud daria um conselho a Bolsonaro: pare de falar dez vezes antes de pensar.
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