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Tática do PT de SP de usar caso Cachoeira para aliviar mensalão irrita petistas de outros Estados

Josias de Souza

16/04/2012 04h47

A tentativa da direção do PT de utilizar o caso Cachoeira como contraponto ao escândalo do mensalão divide a legenda. De um lado, o petismo de São Paulo, entusiasta da ideia. Do outro, petistas de outros Estados, avessos à iniciativa.

Nos últimos três dias, o blog ouviu seis congressistas do segundo grupo –quatro deputados federais e dois senadores. Nenhum deles proveniente de São Paulo. Todos reticentes em relação à estratégia verbalizada por Rui Falcão.

Em vídeo veiculado na semana passada, Falcão serviu-se da autoridade de presidente do partido para declarar: "A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão."

Se ouvisse a bancada que imagina representar, Falcão talvez não se animasse a falar por todos. Embora minoritárias, as vozes contrárias existem. Um dos petistas que conversaram com o repórter disse: "Essa CPI é uma burrice. A associação com o mensalão é idiotice."

A iniciativa seria burra porque "oferece palco para a oposição num instante em que ela estava na defensiva". A tática seria idiota porque, "em vez de desviar o foco do julgamento do STF, alimenta o noticiário negativo do mensalão."

O PT sempre sustentou a tese segundo a qual não houve em 2005 mesada a congressistas, mas caixa dois de campanha. Embora o Ministério Público tenha demonstrado o contrário, a versão vem servindo às conveniências da legenda.

"Daí a dizer que não existiu problema, que foi tudo uma farsa, vai uma distância grande. Ofende a opinião pública", disse um entrevistado. "O local para discutir o mensalão é o Supremo", declarou outro. "Quem foi acusado que se defenda."

"Nada disso foi discutido nesses termos", queixou-se um senador. "Foi tudo feito meio de afogadilho. Nós, do Senado, não pensávamos em CPI. Começaram a falar nisso depois que o Supremo negou o envio de cópia do inquérito da Operação Monte Carlo ao Congresso."

Prosseguiu: "A rigor, não precisamos de cópia do processo para fazer o que tem que ser feito. Já há elementos para cassar o Demóstenes [Torres]. Ele mentiu no plenário. No mais, sempre dissemos que denúncias já investigadas pela PF dispensam CPI. Por que mudar esse entendimento numa hora em que o governo precisa de calma?"

Ouça-se outro senador petista: "Tem gente dizendo que tem que pegar o Marconi Perillo [governador tucano de Goiás, que diz ter avisado Lula, em 2005, sobre a existência do mensalão]. Eu pergunto: E o Agnelo [Queiroz, governador petista do DF], o que fazemos com ele?"

Acrescentou: "Outros dizem que tem que pegar a imprensa, que aparece nos grampos do Cachoeira. Eu pergunto: isso vai passar uma borracha sobre o conteúdo da denúncia do mensalão, vai modificar o juízo dos ministros do Supremo? O partido precisa virar essa página."

Como se vê, Rui Falcão talvez devesse desperdiçar um naco do seu tempo ouvindo "a bancada do PT na Câmara e no Senado", essa que ele diz defender "uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão".

Os insatisfeitos, por ora, são poucos. Não tomarão tanto tempo. Aos repórteres, os petistas insatisfeitos falam sob a condição do anonimato. Entre quatro paredes, não haverão de sonegar suas opiniões ao presidente da legenda.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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