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Sí, compañeros, nosotros tenemos cubanofobia

Josias de Souza

23/08/2013 17h43

Você é médico brasileiro? Já malhou os colegas cubanos hoje? Ainda não? Então, se liga! Você já está um lance atrás do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, João Batista Gomes Soares. Na manhã desta sexta (23), ele declarou o seguinte: "Vou orientar meus médicos a não socorrerem erros dos colegas cubanos."

Deve-se a chegada dos médicos cubanos a um contrato firmado pelo governo do Brasil com a ditadura de Cuba. Há nas duas pontas personagens manjadas: Dilma Rousseff e Raúl Castro. Podendo criticar essas duas pessoas, o doutor João Batista e seus congêneres preferem alvejar os colegas de Cuba. Erro clínico.

Antes de extravasar sua xenofobia, a corporação do jaleco branco deveria desperdiçar 15 minutos do seu tempo com a leitura de um artigo. O texto já foi comentado aqui. Escreveu-o Juan López Linares. Nascido em Cuba, naturalizou-se brasileiro. É professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP.

No seu texto, veiculado no Jornal da USP, Juan Linares declara-se "a favor" da importação de médicos pelo Brasil. Mas leva o pé atrás em relação à inclusão de Cuba na equação. Algo, porém, o distancia de João Batista. Para o professor, o problema está mais na ditadura de Cuba e nos que se relacionam com ela do que nos médicos cubanos.

Em Cuba, informa o professor, o salário de um médico "não supera os R$ 100". Por isso, eles consideram o trabalho em países estrangeiros "um sacrifício desejável". Costumam festejar missões na África. Devem enxergar o Brasil como um Éden.

Os médicos recebem seus salários de Cuba, não do país que os contrata. No caso do Brasil, o contracheque é de R$ 10 mil mensais. Havana vai reter entre 60% e 75% desse valor. Quer dizer: no limite, Brasília financia com dinheiro do contribuinte a ditadura de Havana. Em reação, o doutor João Batista mandou um fotógrafo ao aeroporto de Belo Horizonte para documentar a chegada das vítimas, identificando-as.

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais comprova: certos médicos são cientistas sui generis. Aplicam drogas que mal conhecem em pessoas que nem conhecem. Contra o surto de 4 mil profissionais cubanos, João Batista receitou aos colegas que fujam do contágio, evitando socorrê-los no erro.

Afora a arrogância de supor que os médicos do Brasil são autoimunes ao erro, o doutor prescreve um remédio inútil. Os cubanos irão trabalhar em cidades pobres dos fundões do Brasil. Atenderão à clientela que os colegas brasileiros refugaram. Por falta de companhia, terão de errar sozinhos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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